Adolescente de Crateús tem complexa cirurgia sem sangue realizada em Fortaleza

Foto: divulgação

No último dia 27 de abril, foi realizada no hospital Otoclínica de Fortaleza, uma complexa cirurgia ortopédica sem o uso de transfusão de sangue. O paciente, de 14 anos de idade, residente em Crateús, era portador de escoliose dupla-curva de alto valor angular (coluna em “S”). 

A cirurgia de correção do desvio na coluna em geral envolve significativa perda de sangue e pode durar de 4 a 6 horas. Os pais do paciente são Testemunhas de Jeová e solicitaram à equipe do hospital para não usar na cirurgia transfusão de sangue alogênico (sangue de outra pessoa). A equipe tinha condições técnicas para isso e aceitou utilizar estratégias cirúrgicas que atendessem à posição bíblica da família.

O cirurgião, Dr. Francisco Valmir Fernandes, a anestesiologista, Drª. Vladia Freitas de Oliveira e a equipe utilizaram uma máquina de recuperação intraoperatória de células (RIOS/Cell-Saver) durante a cirurgia. A máquina tem a função de aspirar o sangue que sai da cavidade cirúrgica. O sangue do próprio paciente, que sem o uso da máquina seria descartado, é novamente reinfundido, após ser filtrado. Essa técnica foi aceita pela família. A cirurgia durou 4 horas e foram recuperados cerca de 400 ml de concentrado de hemácias.

No caso das Testemunhas de Jeová, receber transfusão de sangue de outra pessoa estaria em desacordo com o entendimento que elas têm de textos bíblicos como o de Atos 15:28, 29, que diz: “Persistam em abster-se de sangue”. Porém, várias pessoas que preferem, ou não podem receber transfusões de sangue por outros motivos, também podem ser beneficiadas pelas estratégias usadas na cirurgia feita pela equipe do Dr. Fernandes. No Brasil, o uso dessas estratégias nos serviços públicos de saúde é amparado por uma lei aprovada pelo Congresso Nacional (Lei 10205/2001) e por portarias do Ministério da Saúde.

O caso conciliou um procedimento cirúrgico complexo e, ao mesmo tempo, o respeito ao direito constitucional de liberdade de consciência e crença da família, com boa comunicação colaboração entre equipes médicas e pacientes, o que permite assegurar um tratamento médico de qualidade que valoriza a dignidade da pessoa humana.

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