Na madrugada desta quinta-feira (13), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupa área no Perímetro de Irrigação Tabuleiro de Russas, localizado no município de Limoeiro do Norte, Ceará. A ação reúne mais de 200 famílias e traz o debate sobre a Reforma Agrária na região, conhecida como um dos principais espaços de atuação do agronegócio no Estado. A terra ocupada pertence a União e está sob responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
A ocupação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que começou no dia 11 de março e segue durante os próximos dias com várias mobilizações em todo o território nacional, marchas, espaços de formação, ocupações de terras, plantio de arvores, dentre outras. Com o lema “O agronegócio é violência, e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital”, a jornada deste ano denuncia os impactos do agronegócio e reforça a luta por terra e produção de alimentos para acabar com a fome do povo brasileiro.
A área ocupada está situada nos municípios de Russas, Limoeiro do Norte e Morada Nova. O Perímetro de Irrigação abrange uma extensão de 18.637 hectares, dos quais 10.761 hectares estão destinados à irrigação. Outros 3.727 hectares são classificados como reserva legal. Suas principais fontes hídricas são os açudes Castanhão, Banabuiú e Orós.
Segundo as famílias participantes da ocupação, a principal reivindicação é o acesso a terras para trabalhar e produzir alimentos. “A terra precisa estar nas mãos de quem trabalha e alimenta o Brasil. Esta ação também é um grito contra a exploração predatória do agronegócio”, afirma a militante do MST Rosi Lemos.
Lemos critica o modelo atual de desenvolvimento: “Nossa jornada denuncia os crimes cometidos pelo agronegócio com os rastros de destruição da natureza, das violências que impactam principalmente a vida das mulheres nos territórios. As mulheres estão na linha de frente para dizer que quem alimenta o povo brasileiro é a agricultura familiar camponesa. Nossa luta é legítima.”
As famílias reivindicam 2 mil hectares de terra para assentar as 200 famílias, além de reafirmar a luta contra a pulverização aerea por drones, considerada um grande retrocesso aprovado pelo governo do Estado no último período.
A Chapada do Apodi passou por uma transformação significativa a partir da década de 1980, com a construção do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi (PIJA), um projeto financiado pelo governo federal. Essa iniciativa impulsionou a produção de monoculturas em larga escala, majoritariamente voltadas para o mercado externo. No entanto, o mesmo projeto concentrou terras nas mãos de poucos e intensificou conflitos agrários na região.
A expansão do agronegócio agravou problemas estruturais, como a expulsão de pequenos agricultores de suas terras e o aumento das desigualdades sociais no campo. A ocupação do MST na Chapada do Apodi em 2014 evidencia os conflitos gerados por esse modelo de desenvolvimento.
A mobilização desta quinta-feira não é um fato isolado. A região da Chapada do Apodi tem sido palco de conflitos fundiários há décadas. Um exemplo emblemático foi a ocupação realizada em maio de 2014 pelo MST e outras organizações populares, que reuniu cerca de mil famílias e deu origem ao acampamento Zé Maria do Tomé.
Desde então, o acampamento enfrentou diversas tentativas de despejo. Em novembro de 2018, a Polícia Militar cercou a área com um grande efetivo policial, cumprindo uma ordem judicial de reintegração de posse. As ações foram movidas pelo Dnocs e pela Federação das Associações do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi (Fapija), que representa empresários da fruticultura irrigada.
Para mais informações:
Assessoria de Comunicação MST
Aline Kostta (88)997740970
