A atleta crateuense Genir Melo é destaque na mídia. Nesta sexta-feira foi publicada na plataforma digital do Diário do Nordeste, publicada nesta quinta-feira (09), uma entrevista com a atleta de crossfit, que relata sempre ter sido de família de condições humildes, e ter trabalhado na roça para ajudar no sustento.
Veja a entrevista na íntegra:
Nome: Genir Melo
Idade: 30
Altura/peso: 1,63m/61kg
Onde treina: Caserna/Box Cabra da Peste
Movimento que mais gosta: clean and jerk
Movimento que menos gosta: handstand walk
No que precisa melhorar: ginásticos
PR Clean and Jerk: 76 kg
PR de snatch: 65 kg
PR de muscle bar: 16
Antes de conhecer o Crossfit, o que você fazia?
Corrida, bicicleta e musculação. Gostava muito de corrida de rua.
Quando você conheceu o Crossfit?
Na passagem de 2015 pra 2016. O Adan Ximenes, irmão do Allan (Marx), da Dragão do Mar, treinava na academia onde eu trabalhava, lá em Crateús (eu sou de lá) e me chamou pra treinar. Eu não sabia de nada até então. Ele me disse: “sobe aí na corda”. E eu subi na tora, legless. E ele: “que por** é essa? Mas não é assim não, tem que aprender a clipar”. Ele foi me ensinando e eu fui me apaixonando pela modalidade. Abandonei a musculação. Treinava eu, ele e mais dois caras, numa garagem. Depois, fiquei só na corrida e no Crossfit. Com o tempo, a corrida foi desgastando.
E você começou a competir logo de cara?
Em julho de 2016, com quatro meses de treino, vim pro BTD. Ganhei primeiro lugar scaled, de boa, e me apaixonei. Já tinha ganhado muitas corridas, mas no BTD me apaixonei por aquilo. Veio Batalha dos Boxes, em dezembro de 2016, e competi em trio com as meninas da Dragão do Mar. Ficamos em segundo. Depois do BTD, passamos uns três meses sem treinar porque não tínhamos condições de manter o espaço, de pagar aluguel, água, luz. Antes, a gente se juntava e pagava.
Como era esse espaço de treino?
Não tinha peso suficiente. A gente tava tentando melhorar carga, mas só tinha uma barra, 80 kg de peso e rolamento de trator. A gente colocava o rolamento na barra porque não tinha mais anilha. A gente pesava e tinha uma noção. Mas não tinha wall ball, nem rack, não tinha nada. Pra bola, a gente pegou uma borracha e enchemos de areia; devia pesar uns 15 kg. Era só na tora. Em 2017, vim de intermediário pro BTD, pela Gurkha, que me ajudou. Fiquei em 2º e evoluí bastante. Em 2018, ia acontecer em Recife, e a Renata e o Éder: “vai que vai dá certo, Genir, é bom”. Eu me desafiei. Fazia rifa, pedia ajuda a alguém. No intermediário, ganhei 1º lugar raso.
De onde veio esse talento?
Você tem que ter uma determinação a seguir. Todo mundo tem suas dificuldades. Meu pior hoje é o ginástico, porque eu nunca fui uma criança de pular, de correr. Sempre fui da roça, trabalhando com meu pai, e nunca gostei de esportes porque não tive a possibilidade. Eu morava no meio do nada, no mato. Ia pra escola, que não tinha atividade física, e só. No ginástico, você precisa ter um coach auxiliando, e eu sempre treinei só. Os meninos me dão uma ajudinha, mas tudo que aprendi até hoje foi sozinha. A Renata me ensinou muscle up, mas ainda não faço tão bem, só uns 5 unbroken. Tipo na tora, mas sai.
Então é como se ela fosse uma mentora pra você?
Ela é uma inspiração pra mim. Eu a conheci no BTD 2016, e me apaixonei porque ela é muito simples, humilde, acolhedora. Ela abriu as portas pra mim e ainda hoje me apoia. Ela disse: “se você viesse treinar com a gente, você iria bem mais além”. Eu sou desafiadora, tenho até boas cargas, mas faltam os ginásticos.
Qual é sua expectativa com o TCB?
Vai ser um desafio pra mim porque você sabe, vou estar entre as estrelas. E eu não vou pra brincar, eu nunca fui pra brincar. Eu vou pra me desafiar e dar o meu melhor. Por que não vou brincar? Porque vou estar gastando algo que eu não tenho. Sempre que eu venho a Fortaleza, muita gente me ajuda com passagem, estadia… Se eu vier só pra brincar, ninguém vai mais acreditar em mim. Eu não tenho condições.
Você atua na área de educação física?
Sou professora de educação física formada, mas ainda não recebo o suficiente pra me manter no esporte porque é muito caro. Às vezes, me pergunto: “como vim parar nesse esporte de rico?” Tudo é caro, e eu sou muito simples. Eu não tenho besteira com nada. Tô aí na luta direto, constantemente evoluindo. Hoje, eu também faço a limpeza do box, pra diminuir a mensalidade e não ficar tão pesado pra mim. Se você não meter as caras, você não sai do canto. Tenho vontade de vir morar em Fortaleza de vez, nesse ano ou no próximo, talvez. Lá no interior, você não tem como evoluir, ainda mais treinando sozinha.
Como é isso pra você?
Até agora, nunca tive lesão. Acho que é consequência. Às vezes, é perigoso treinar só porque você não sabe se está fazendo certo ou errado. Na verdade, tem vários movimentos que você acha que tá certo e não tá. Se tivesse alguém, seria diferente. Mas eu percebo, olho vídeos, comparo, mando pra Renata… Ela ajuda. Eu tiro minhas dúvidas com ela. Tô na luta diária pra evoluir. Se você tem um bom coach, que lhe apoia, dê valor que você evolui. Ou, mesmo treinando só, bote na sua cabeça que você pode chegar longe. É só você querer.
Ainda mais porque antigamente não tinha planificação.
Vai dando certo na tora. Acho que eu já sou uma vencedora por tudo que eu tenho de aprendizado até hoje. Não é fácil não. Tem muitas meninas por aí que tem tudo: coach, suplementação, manipulação… Eu não tenho nada, eu não tomo nada. Ou eu pago a mensalidade e como ou eu morro de fome. E nesse esporte tem que ter suplementação, dieta… Eu como o que vem na frente. É muito desafiador… E eu viso chegar aos Crossfit Games, pelo menos nos 40+. Já falei pra Renata. Eu só tenho Deus no coração e a vontade de vencer.